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14/12/2018

Para o uso sustentável da água é preciso gestão eficiente e mudança de comportamento

Para o uso sustentável da água é preciso gestão eficiente e mudança de comportamento

O Papa Francisco pediu a "vontade e determinação", bem como a não diminuição de todos os "esforços institucionais, organizacionais, educacionais, tecnológicos e econômicos" para fornecer água potável a toda a população.

 

Cada vez mais enfrentamos o risco de sobrevivência em longo prazo se não conseguirmos compreender plenamente as mudanças na população, o consumo e o desperdício, a escassez de recursos, principalmente a disponibilidade de água limpa e segura. A redução desse risco implica mudarmos para um comportamento mais sustentável. Ou seja, proteger, preservar e recuperar a água doce, essencial à vida. Como fazer isso se 95% da população vive no “piloto automático” e passam o dia a dia sem prestar muita atenção à sua volta? “Tô nem aí!” “Eu pago a minha conta.” “Nem me lembrei de fechar a torneira”. Só nos damos conta do valor e da importância da água quando ela realmente falta.

 

Existe o mito de que basta “conscientizar” para mudar um comportamento. Todos nós já somos conscientes de que cigarro provoca câncer. Daí até parar de fumar... A educação ambiental, que é muito utilizada, é uma ferramenta limitada para fomentar o uso da água de forma mais responsável, numa comunidade, numa empresa ou condomínio residencial por exemplo. Ela funciona em grupos de pessoas que já estão propensos a mudar para um comportamento mais sustentável. Para uma gestão eficiente da demanda da água, temos que trabalhar em duas frentes importantes:

 

a) De forma estruturante, provendo a comunidade, empresa ou condomínio de tecnologias que ajudem na gestão mais racional da água, como sistemas de reuso, captação e/ou tratamento de água de chuva, quando possível, medição individualizada de água em condomínios, controle de vazamentos, substituição de descargas, redutores de vazão e constante busca de fontes alternativas de abastecimento.

 

b) Não estruturante, ou seja, considerando como as pessoas se comportam ao lidar com a água no dia a dia. Isso implica mudança de comportamento. Reduzindo tempo de banho, substituindo válvulas de descarga, reusando as águas servidas para limpeza bruta (oriundas de sistemas de ar condicionado ou de máquinas de lavar, por exemplo).

 

Entretanto, a mudança para um comportamento mais sustentável é a parte mais difícil de se implementar se não houver uma investigação anterior de quanto e como as pessoas estão dispostas ou sabem como usar a água de forma mais responsável. Por exemplo, os jovens adoram banhos mais longos, comprovadamente. As crianças são mais fáceis de assimilar novos comportamentos. Lavar uma calçada com mangueira é uma forma de reduzir o estresse numa cidade inóspita. Nossa relação com a água não é “racional”. É biológica, lúdica e comportamental. Não costumamos ler ou procurar entender todas informações de consumo existentes numa conta de água.

 

Assim como criamos ou temos barreiras e grandes motivações para aumentar o consumo, temos barreiras e baixas motivações para reduzir o consumo ou consumir a água de forma mais sustentável. Como já citado, nossa relação com a água é biológica e lúdica e a maioria se comporta no “piloto automático”.

 

O professor e filósofo colombiano Antanas Mockus classifica as motivações das pessoas de acordo com os três sistemas de regulação usados pela sociedade contemporânea: lei, moral e cultura. De acordo com essa teoria nos comportamos socialmente:

 

1. Por respeito ou medo da sanção legal – multa ou cárcere;

 

2. Pelo código de conduta moral que trazemos de casa: se aprendi que não devo desperdiçar água, provavelmente, sentirei “culpa” ao desperdiça-la;

 

3. Por controle ou desagravo social da comunidade em que estou inserido, que me motiva a mudar o comportamento.

 

Mockus enfatiza que, se conseguirmos alinhar esses três fatores, lei, moral e cultura, reduzir-se-á boa parte das barreiras para a mudança social, visando o bem comum.

 

Na questão do uso responsável da água, é preciso fazer a gestão eficiente da demanda e procurar mudar comportamentos não sustentáveis. A educação ambiental e o marketing social são ferramentas para atingir os grupos de pessoas que estão propensas ou não a mudar para um comportamento sustentável de uso da água. O grupo que não está nem aí terá que ser convencido pelo uso da tecnologia (medição individualizada, temporizadores ou redutores de vazão da água, por exemplo – quando técnica e economicamente possível), da educação, do marketing social e, principalmente aplicação da norma, da multa (dizemos de forma popular, que somos mais sensíveis no bolso) e desagravo do corpo social onde esse grupo está inserido. Entretanto, antes de implantar novas tecnologias ou fazer do uso da educação ambiental e campanhas de marketing social, seja para uma comunidade, seja para o público interno de uma empresa, seja para moradores de um condomínio, pesquise quais são as barreiras, motivações, intenções de mudar e limitações cognitivas ou técnicas sobre a questão do uso sustentável da água.

 

A partir dessas respostas, poder-se-á montar um programa eficiente de gestão da demanda na questão do uso sustentável da água.

 

Fonte: O São Paulo


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